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sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Alquimia

É freqüente encontrarmos autores de livros de Química argumentando ser essa Ciência oriunda da Alquimia. Ora, é sobejamente sabido, por todos aqueles que se dedicam à pesquisa histórica, que de modo algum essa suposição pode ser suportada pelos fatos. Isto é, no máximo, apenas uma parte da verdade, já que muitos alquimistas também descobriram novas substâncias e desenvolveram procedimentos experimentais utilizados posteriormente pela Química.
Mas há na Alquimia uma sabedoria que não se encontra na Química. Elas diferem, portanto, nas suas concepções e objetivos. A palavra Alquimia, do árabe Al-Kemi ou do grego Chemeia, tem o mesmo significado: Química.
No Egito antigo, temos Khem-Kemé (a Ciência de Khem, que era o nome do Egito no passado; dizem na Astrologia Esotérica que Khem era o nome das Plêiades, as Cabritas dos Céus, intimamente relacionadas com as pirâmides). Na China, Kim-Mai, do dialeto cantonês, significando algo como “o segredo”; ou ainda, do dialeto de Fukien, Chim-I, extrato para fazer ouro. O nome do Egito, em hieroglífico é Khemi (negro), isto é, a matéria original da transmutação, passível de ser convertida em ouro.
A Alquimia é uma Química Transcendental, superior, e há entre as duas a mesma relação que existe entre a Astrologia e a Astronomia, e a mesma diferença: uma é de caráter nitidamente espiritualista e a outra, friamente materialista.
Alguns escreveram que a Alquimia é produto de séculos de ignorância, mas é exatamente o contrário: naqueles séculos de ignorância ela foi a Luz valente e atrevida que, com o passar do tempo, resultou no florescimento da atual Ciência, da Filosofia, do Esoterismo, da Magia séria e profunda, das diversas formas artísticas etc., como ramos daquela imensa árvore. Sua desarticulação não surgiu de suas contradições internas, mas ocorreu no contexto do sistema objetivo do pensamento nascido com a Ciência Moderna. A Alquimia se recusou a partilhar do dogma modernista que desvinculou o sujeito e o objeto, a matéria do Espírito, a Unidade na Diversidade...
O alquimista é um perseguidor da perfeição em todos os reinos da natureza. É o agente do Criador para o aperfeiçoamento de Sua Obra.
No passado não existiam as especializações, como vemos hoje. O alquimista era também astrólogo, médico, sacerdote do Altíssimo, mago e filósofo, de modo que reunia, como ainda reúne, o máximo do Conhecimento (Gnosis) de sua época. Esse Conhecimento Liberador, combatido sem tréguas pelo fanatismo religioso que considerava satânico todo saber, passou a ser transmitido pelo mestre a alguns discípulos, que eram iniciados em sua “Arte”.
Vejamos o que nos diz Arnold Waldstein em sua obra Os segredos da Alquimia: “O homem moderno, e em especial o cientista moderno, demasiadas vezes paralisado pelas ilusões da física nuclear, mostra uma tendência excessiva para considerar os alquimistas com comiseração, como os ‘homens das cavernas’ da ciência atual, a qual se encontraria na senda da verdade e do progresso. Ora, quando o homem moderno, mergulhou nos abismos da ‘civilização moderna’, e vê o alquimista como um sonhador perdido nas suas poções mágicas e nas suas receitas cabalísticas, ele não faz mais do que sucumbir a uma ilusão, pois, com efeito, o alquimista, quer ele fosse da Idade Média, quer fosse do Renascimento (as idades de ouro da Alquimia, pelo menos entre as historicamente conhecidas), superava o Tempo e possuía em germe nas suas retortas toda a decomposição plutônica do mundo moderno, que agora o julga. Assim, podemos considerar a química moderna, um desvio da Alquimia”.
Vários foram os alquimistas que contribuíram para o desenvolvimento dessa Arte, como Demócrito, iniciado nos Templos de Memphis, discípulo de Leucipo, o qual enunciou a base da Teoria Atômica, além de Newton, Berthelot, Crookes, Rochas, Mendeleiev e tantos outros.
Não poderíamos deixar de citar aquele que mais se destacou no estudo da IATROQUÍMICA, ou seja, a Química destinada à cura. Estamos falando de Theophrastus Bombast von Hohenhein, Paracelso. Paracelso preconizou uma nova terapêutica das doenças, baseada no princípio de que o ser humano era formado por elementos básicos cujo desequilíbrio provoca todas as doenças. Lembremos que Paracelso, juntamente com outros luminares do Ocultismo e da Alquimia, como Cornélio Agripa e Fausto de Praga, foi discípulo do famoso Abade Tritemo.
Os textos alquímicos são permeados pelos processos da transformação, quase sempre representados pela transmutação do chumbo em ouro, sugerindo também a passagem da ignorância, tida como fonte das trevas, para a Sabedoria, associada à luz solar, à perfeição, ou ainda ao brilho do ouro.
Assim, a finalidade aparente da Alquimia é a fabricação do ouro, mas a Arte Alquímica consiste em despertar o sentido das analogias; é a ponte de ouro que une o microcosmo ao macrocosmo, ligada, por conseqüência, ao fenômeno da iluminação – o visível como reflexo do invisível.
Devemos recordar que a Alquimia é a arte de alcançar a perfeição, que para o metal ou a matéria é o ouro, e para o homem, a regeneração psicofísica, com a longevidade, depois a imortalidade e, por fim, a redenção espiritual.
A obtenção da Pedra Filosofal, do ouro alquímico, corresponde à grande transformação interior, é atingir o aperfeiçoamento, o autoconhecimento e a auto-realização. A via para conseguir tais objetivos é a Alquimia redentora e que significa o perfeito equilíbrio dos sentimentos, das ações e dos pensamentos (bhakti yoga, karma yoga e jnana yoga, unidos em perfeita harmonia).
Os que já lograram tal intento são aqueles que vivenciam e manifestam o Ser Divino em seu interior, em lugar do “ego”, do “eu”. Para esses, a verdadeira família é a comunidade planetária, a verdadeira pátria é o planeta Terra, o Amor é seu Deus, e a Verdade, sua Religião maior.
''E à medida que o Alquimista for se aperfeiçoando psicologicamente, erradicando o que tem de falso em sua personalidade, poderá almejar os mais elevados níveis de êxtase, os chamados estados de Samadhi.Esses estados de consciência não podem ser definidos, tal a sua natureza íntima, tal o refinamento que se necessita para alcançá-lo em seus três graus: samadhi, nirvikalma samadhi e mahasamadhi, todos fundamentados na manipulação inteligente do Fogo Criador, a matéria-prima da Alquimia.